sábado, 5 de julho de 2008

RELIGIÃO - Jornalista troca férias por trabalho missionário


A jornalista Wenya Alecrim, da cidade de Rio Verde, em Goiás e membro da Igreja Batista Nacional Central, resolveu tirar umas férias: foi conhecer e participar de um trabalho missionário na Guiné Bissau, mais precisamente na ilha de Bubaque. Com exclusividade ela faz um relato da viagem ao BLOG DO ZAPEANDO.

“Nem em nossos sonhos mais remotos imaginamos o que encontraríamos naquele país. A expectativa durou um ano. Após uma visita da Missionária Maly Paiva em nossa cidade, Rio Verde, no interior do estado de Goiás, à vontade, o desejo, o amor nasceu no coração de uma filha: Yara Cristina. Em janeiro de 2007 a missionária retornou para Guiné Bissau, na África, mais precisamente para a ilha de Bubaque, onde o trabalho é desenvolvido.
Ficamos mais de seis meses na inércia, sem ações práticas. Apenas orando, querendo, sonhando.
No início da viagem, em janeiro deste ano, o inimigo tentou nos desanimar. Em Brasília quando embarcávamos para Fortaleza, de onde sairia o avião para Guiné-Bissau, fomos barradas pelo excesso de peso. Já contávamos com isso, mas não da forma que nos foi apresentada. Desesperadas pensamos em embarcar no outro dia, a fim de que desse tempo de organizar tudo. Mas Deus estava ali do nosso lado e comoveu o coração de funcionários da empresa de aviação que nos ajudou a remanejar as bagagens. E como num passe de mágica, ou melhor, de milagre, o peso extra desapareceu. È verdade. Desapareceu!
Em Fortaleza ficamos dois dias esperando para embarcar. Deveria ter no mesmo vôo cerca de 60 cristãos dentro do avião. Todos com destino a África. Eles também estavam doando suas férias para Deus.
A descida em solo africano foi tremenda. Primeiro em Senegal. Ali tivemos os primeiros contatos com nossos ancestrais. Depois em Bissau. Quando encontramos a missionária, às três horas da manhã de lá, depois de oito horas de vôo, pensamos que pegaríamos nossas bagagens e iríamos para casa. Ledo engano. Ficamos sem as malas com as nossas roupas e sem as 5 caixas com todos os mantimentos. E sem previsão de chegada. Mas, e usarei sempre o mas... Deus agiu novamente. No outro dia de todas as pessoas que estavam no avião nós fomos algumas das pessoas que receberam as malas, apenas nós .
A primeira vista, a luz do dia da cidade, foi estranha. Estávamos em um lugar onde não existe saneamento básico, sem energia pública ou água encanada. Onde tudo é permitido, onde crianças são criadas sem pudores, 65% da população é analfabeta, sendo 80% mulheres. Em Bissau a população sobrevive do comércio, venda de produtos importados, nada é produzido lá além das hortaliças. Muitas pessoas se aglomeram nas ruas e vendem de tudo ali mesmo. Nos sentimos em um filme estrangeiro antigo.
Chegamos no domingo, entretanto só fomos para nosso destino final, a ilha de Bubaque, na terça feira. Apenas neste dia sairia canoa para lá. Confesso que cheguei a pensar que a canoa fosse menor. A canoa transporta de tudo: sacos de arroz, cimento, moto, comida, óleo, animais e até vaca. Amontoadas sobre os objetos passamos quase seis horas em alto-mar. A vista das ilhas pelo caminho foram um alento para nossa viagem fria e silenciosa.
A ilha de Bubaque faz parte do arquipélago de Biajgós. São aproximadamente 60 ilhas. A língua oficial do país é o português, a língua oficial entre todos os guineenses é o crioulo e a língua oficial entre eles é o bijagós. Nossa expectativa era de que todos falassem ou entendessem o português. Nada disso, a comunicação na maioria das vezes se deu mesmo por indução. Apenas no centro da ilha há energia de gerador, que chega às sete horas da noite. O celular é o meio mais comum de comunicação. A comida é diferente e cara.
O programa Reobote desenvolvido pela missionária Marly consiste na assistência social. Com apenas um ano na ilha, ela consegui implantar uma escola, que hoje abriga duas turmas de alfabetização, um mini-posto de saúde, onde os atendimentos são feitos em uma tenda, doado por um empresário brasileiro. Quando estávamos lá Deus deu um presente a missionária e mais ainda as crianças. Foi assinado um convênio com uma ONG americana, onde as crianças passariam a ter merenda na escola. Foi maravilhoso o primeiro dia de refeição. A maioria das crianças comem apenas uma vez ao dia, às seis horas da tarde. Além de todas essas ações, a missionária desenvolve culto em três tabancas, que são pequenas aldeias espalhadas na mata.
Foi me dada a chance de falar de Deus na primeira tabanca. Nesta hora pensei: “Deus apenas me usa”. No escuro, com cerca de 50 pessoas ao redor, lá estava eu, falando de Jesus para outra nação. Foi tremendo, tinha um rapaz que traduzia para o crioulo tudo que falava. E Deus derramou seu Espírito. A Érika também falou do Senhor em uma tabanca e a Yara na tenda.
Em uma tabanca mais distante do centro da ilha a missionária esta conseguindo implantar uma igreja. Mais de 50 pessoas freqüentam os cultos realizados às sextas-feiras. De acordo com a missionária, ali ela entende o agir de Deus. Pessoas têm a convidado para destruir os altares a Satanás (foto). Cada frente de casa possui um altar aos demônios. Eles acreditam que assim estão protegidos. São cegos espiritualmente, nunca ouviram falar de Jesus. Nesta mesma tabanca Marly esta construindo uma igreja, com ajuda que vai do Brasil. Hoje os cultos são realizados em uma casa e logo em breve ela realizará o primeiro casamento na ilha.
Nós cristãos acostumados com igreja, sempre ouvimos falar de opressão, ás vezes até sentimos, mas nada parecido com o que vivemos lá. Chegamos numa uma época em que uma cerimônia chamada Fanado estava acontecendo. A cerimônia restrita a eles, consiste basicamente no isolamento nas praias e matas durante vários dias. As meninas adolescentes são obrigadas a beber, dançar e sofrem maus tratos. O fanado é praticado em diversos níveis, se assim podemos dizer. Infantil, adolescente e adulto. O som do tambor, tocado, dia e noite nas cerimônias nos incomodou muito. A opressão naquele lugar é maior do que em qualquer outro por onde já passamos.
Na ilha nos apaixonamos pelas crianças. Um povo sedento de carinho e atenção. Em pouco tempo fizemos amizades com adolescentes e adultos. Por sinal eles são bastante receptivos. Querem sempre te agradar. Nos apaixonamos mais ainda pelo amor de Deus com os povos e entendemos o que é os “confins da Terra”. Mudamos nosso pensamento sobre missão e nossa meta agora é voltar em 2010, desta vez com uma nova visão e mais recursos.
Abraço a todos, e se puderem orem pelo programa Reobote”.

Wenya Alecrim

Conta para ajuda a missionária: Missão Cristã Mundial - agência: 1633-0/ conta 17810-1/ Bradesco/E-mail da missionária para contato: marlynaguine@hotmail.com

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